terça-feira, 18 de maio de 2010

Brasil irá reagir no Conselho de Segurança contra sanções a Irã, diz Amorim - 18/05/2010

Brasil irá reagir no Conselho de Segurança contra sanções a Irã, diz Amorim
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SOFIA FERNANDES
da Sucursal de Brasília

Atualizado às 21h40.

O chanceler Celso Amorim afirmou nesta terça-feira que irá reagir dentro do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) contra as sanções anunciadas contra o Irã. Amorim está escrevendo uma carta a quatro mãos com o chanceler turco para enviar aos membros do conselho.

Brasil não vai discutir sanções da ONU contra o Irã, diz embaixadora
Proposta de resolução da ONU contra Irã inclui bancos e armas
Conselho de Segurança de ONU se reúne para discutir sanções
Embaixador dos EUA no Brasil diz que acordo não é suficiente
Eraldo Peres/AP
Para Celso Amorim, todos os pontos considerados essenciais pela comunidade internacional foram acatados pelo Irã no acordo firmado
Para Celso Amorim, todos os pontos considerados essenciais pela comunidade internacional foram acatados pelo Irã no acordo firmado

Na mensagem, os dois países irão justificar que todos os pontos considerados essenciais pela comunidade internacional foram acatados pelo Irã no acordo firmado ontem entre Brasil, Irã e Turquia.

São estes os requisitos conquistados pelo acordo: quantidade definida da remessa de urânio; a não exigência de recebimento prévio ou simultâneo do urânio enriquecido; e a comunicação oficial à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) dos compromissos assumidos.

"Achamos que os pontos essenciais podem ser considerados um passaporte para uma solução negociada e pacífica da situação nuclear iraniana, e essas condições foram cumpridas", afirmou Amorim.

Para Amorim, que estava visivelmente cansado e afobado durante entrevista coletiva, as sanções anunciadas foram pré-concebidas, e os países não levaram em consideração o acordo encabeçado pelo Brasil. "Não é possível que todas as pessoas tenham analisado o acordo", afirmou. "Não colocaram na balança as coisas que Lula falou", emendou.

Chanceler afirmou que vê risco de o Irã ficar melindrado com o pacote de sanções, mas que não fica irritado com o ceticismo americano em relação à atuação brasileira.
"Não fico irritado com o ceticismo americano. O acordo é o acordo que eles propuseram, as dificuldades eram sempre essas, e todas as dificuldades foram resolvidas", disse.

No fim da entrevista, Amorim afirmou que não defende que o Irã volte a enriquecer urânio, mas que isso é um problema soberano do país. "Não tenho razão para acreditar que tenha motivos militares o programa iraniano", disse.

Amorim, que chegou hoje de viagem de Madri, defendeu ainda que o Irã não está questionando a presença dos agentes da agência atômica. "Em nenhum momento o Irã questionou a presença dos inspetores", afirmou.

Recusa brasileira

A embaixadora do Brasil no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), Maria Luiza Ribeiro Viotti, deixou claro nesta terça-feira que o país está insatisfeito com a divulgação de um esboço de sanções contra o Irã, após uma reunião do grupo na tarde de hoje.

"O Brasil não vai entrar em nenhuma discussão nesse momento porque achamos que é uma situação nova", disse ela. "Houve um acordo muito importante ontem."
Vahid Salemi/AP - 17.mai.10
Celso Amorim (esq.), Luiz Inácio Lula da Silva, Mahmoud Ahmadinejad, e Recep Tayyip Erdogan (dir.) comemoram acordo
Celso Amorim (esq.), Luiz Inácio Lula da Silva, Mahmoud Ahmadinejad, e Recep Tayyip Erdogan (dir.) comemoram acordo

O Conselho de Segurança das Nações Unidas fez uma reunião de emergência nesta terça-feira para discutir o projeto de resolução estipulado por seus cinco membros permanentes --Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido--, mais a Alemanha, para acirrar o regime de sanções ao Irã por seu programa nuclear.

Sanções

A proposta de resolução de sanções contra o Irã, elaborada pelos EUA, Rússia e China prevê punições a bancos e outras empresas do país, além da criação de um regime internacional de inspeções em navios suspeitos de transportar cargas relacionadas aos programas nuclear e de mísseis.

O documento de dez páginas, ao qual a Reuters teve acesso, "pede aos Estados que adotem medidas adequadas para proibir (...) a abertura de novas agências, subsidiárias ou escritórios de representação de bancos iranianos" caso haja razões para supor que tais bancos estejam vinculados a atividades de proliferação nuclear.

O esboço também aponta "a necessidade de exercer vigilância sobre transações que envolvam bancos, inclusive o Banco Central do Irã, de modo a evitar que tais transações contribuam para a proliferação de atividades nucleares sensíveis" ou para o desenvolvimento de sistemas para o lançamento de armas atômicas.

A quarta rodada de sanções ao Irã ampliaria o embargo armamentista já em vigor contra o país, incluindo novas categorias de armamentos pesados.

Vários diplomatas ocidentais do Conselho de Segurança disseram que o órgão da ONU, com 15 países, deve votar a resolução no começo de junho.

Os dez membros não permanentes do Conselho --inclusive Brasil e Turquia, que acabam de mediar um acordo nuclear com o Irã-- deveriam receber o texto durante uma reunião que estava em andamento nesta terça-feira na sede da ONU, segundo os diplomatas.

O Ocidente suspeita que o programa nuclear iraniano inclua o desenvolvimento de armas, algo que Teerã nega.

Acordo

A reunião do Conselho de Segurança da ONU nesta terça-feira pode ser considerada como uma rejeição ao acordo fechado pelo Irã com mediação do Brasil e da Turquia.

O acordo assinado ontem determina que o Irã envie 1.200 quilos de seu urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 120 quilos de urânio enriquecido a 20% na Rússia ou França --suficiente para a produção de isótopos médicos em seus reatores e muito abaixo dos 90% necessários para uma bomba. O urânio enriquecido seria devolvido ao Irã no prazo de um ano.

A troca acontecerá na Turquia, país com proximidades com Ocidente e Irã, e sob supervisão da AIEA e vigilância iraniana e turca.

A troca de urânio iraniano em solo exterior era tema da proposta feita pelo grupo dos 5+1 (Estados Unidos, Reino Unido, França, China, Rússia e Alemanha) em outubro passado, sob mediação da AIEA. Na época, o Irã rejeitou a proposta por falta de garantias da entrega do urânio enriquecido e, em fevereiro passado, iniciou o enriquecimento de urânio a 20% em seu próprio território.

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